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Manifesto do chefe Seattle

Manifesto do chefe Seattle

Manifesto do chefe Seattle ao Presidente dos E.U.A.
 
O texto, que agora apresentamos, é um manifesto do chefe Seattle respondendo em 1855, à proposta do então presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Pearce, de comprar a terra dos índios. Para lançar esta edição, tivemos algumas dificuldades em localizar o texto em inglês. Aqui no Brasil encontramos, publicadas, algumas versões da carta do chefe índio em português - porém, não na íntegra - entre as quais uma distribuída pela ONU. A fonte em inglês, entretanto, não foi localizada nas principais bibliotecas e centros de documentação do País. Como queríamos, por rigor científico, uma publicação com tradução própria, estava inviabilizada a impressão do texto sem contar com a carta em inglês. Recorremos, assim, a um amigo, jornalista Moisés Rabinovici, em Washington, pedindo para que localizasse tal texto. O manifesto foi procurado, em Washington, e, após alguns contratempos, foi localizado na “Seattle Historical Society”. Portanto, aqui vai nosso agradecimento ao Rabinovici pela atenção e pelo trabalho que teve para encontrar o texto do velho chefe índio. Há duas versões deste manifesto do chefe Seattle, porém, basicamente, apresentando as mesmas idéias. Preferimos traduzir, na íntegra, a mais difundida e aceita como original.
 
O chefe Seattle nasceu em 1790 e morreu em 1866. Liderou os Duwamish e as tribos Suquamish, Samanish, Skopamish e Stakmish, sendo o primeiro signatário do tratado de Port Elliot, pelo qual estas tribos se submeteram às imposições governamentais dos EUA, recebendo, em troca, uma reserva indígena.
 
Cumpre lembrar, também, que a cidade de Seattle, nos EUA, tem este nome em homenagem ao chefe dos Duwamish. E um monumento foi erguido sobre a lápide do seu patrono, pelo povo de Seattle, em 1890.
 
O manifesto é considerado como um dos mais profundos pronunciamentos a respeito da defesa do meio ambiente. Embora datado de 1855, sua atualidade é indiscutível, à medida que salienta nossa falta de respeito e cuidado com a terra e, conseqüentemente, com o equilíbrio ecológico. É sabido que a natureza não reclama, não discute, apenas se vinga. E já estamos sentindo, nos grandes centros urbanos e, até mesmo, no meio rural, as conseqüências nefastas da nossa agressão à natureza. Resta-nos apenas uma saída: respeitar mais a terra, antes que seja tarde, e ensinar nossas crianças a importância do equilíbrio ecológico. Ou seja, fazer exatamente o que grande parte dos homens não soube fazer: preservar as praias, os rios, os lagos, as montanhas, as árvores e os animais, pois sem eles, como afirmou o sábio chefe Seattle, é o fim da vida e o início de uma subvida.
Sérgio Costa.
 
* Nota do Editor: Esta apresentação se refere à 1ª edição realizada pela Editora Babel Cultural em 1987 
 
"O Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa Terra. Manda também, palavras de amizade e cordialidade. É gentil de sua parte, mesmo sabendo que ele tem pouca necessidade de retorno de nossa amizade. Mas consideraremos a sua proposta, pois sabemos que se nós não vendermos, o homem branco poderá aparecer com armas de fogo, e ficar com nossa terra. É possível comprar o céu e o calor da terra? Tal idéia é estranha para nós. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como podem comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, a areia da praia, cada bruma nas densas florestas, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados na memória do meu povo. A seiva que corre através das árvores carrega as memórias do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem, quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos nunca esquecem esta bonita terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, o cervo, o cavalo e a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem, todos pertencem a uma mesma família. Deste modo, quando o Grande Chefe manda dizer que quer comprar nossa terra, ele pede muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que ele nos reservará um lugar onde possamos viver contentes. Ele será nosso pai e nós sermos seus filhos. Assim, consideraremos sua oferta de comprar nossa terra. Mas não será fácil, pois esta terra é sagrada para nós. Esta água brilhante, que corre nos riachos e rios, não é somente água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo do espírito, na cristalina água dos lagos, revela acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, eles saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar às suas crianças que os rios são nossos irmãos, e seus também, e vocês devem, daqui em diante, dar aos rios a bondade que dariam a qualquer irmão. O homem vermelho sempre temeu o avanço do homem branco, como a névoa da montanha corre antes do sol da manhã. Mas as cinzas dos nossos pais são sagradas. Suas sepulturas são solo sagrado e, portanto, esta colinas, estas árvores, esta porção do mundo, são sagradas para nós. Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, como um forasteiro que vem à noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, continua simplesmente o seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus pais. E não se importa. Rouba a terra de seus filhos. E não se importa. As sepulturas de seus pais e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, sua terra, seu irmão, e o céu, como coisas para serem compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou contas coloridas. Seu apetite devorará a terra e deixará somente um deserto. Eu não sei. Nossos costumes são diferentes de seus costumes. A visão de suas cidades causa dor aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda. Não há um lugar calmo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar para escutar o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece apenas insultar os ouvidos. E o que resta da vida, se um homem não pode escutar o choro solitário de um pássaro ou o coaxo dos sapos em volta de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento, encrespando a face do lago, e o próprio aroma do vento, limpo por uma chuva do meio-dia, ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. O homem branco parece não sentir o ar que respira. Como um animal agonizando há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir sentir o vento adoçado pelas flores das campinas. Portanto, nós consideraremos sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitá-la, vou impor uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra maneira de agir. Avistei um milhar de búfalos apodrecendo na campina, abandonados pelo homem branco que lhes atirou de um trem a passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como pede ser, um fumegante cavalo de fero, mais importante que o búfalo sacrificado por nós apenas para permanecermos vivos. Que é um homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, homens morreriam de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo. Deve ensinar, às suas crianças, que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que a terra é enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças; que a terra é nossa mãe. Tudo o que ocorrer com a terra, ocorrerá aos filhos da terra. Se os homens desprezam o solo, estão desprezando à si mesmos. Isto sabemos. A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. Isso sabemos. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a trama da vida; ele é meramente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Mas consideraremos sua oferta de ir à reserva que você tem para meu povo. Viveremos isolados e em paz. Pouco importa onde passaremos o final de nossas vidas. Nossas crianças viram os seus pais humilhados na derrota. Nossos guerreiros sentiram vergonha depois da derrota e tornaram ociosos seus dias, contaminando seus corpos com doces e bebidas fortes. Pouco importa onde passaremos o final de nossos dias. Não são muitos. Poucas horas mais, poucos invernos mais. E não deixaremos as crianças das grandes tribos, que viveram nesta terra. ou que agora perambulam em pequenos grupos nas florestas, lamentarem diante dos túmulos de um povo, outrora tão forte e esperançoso quanto o seu. Mas porque eu deveria lamentar a passagem do meu povo? Tribos são feitas de homens, nada mais. Homens vêm e vão, como as ondas do mar. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. Apesar de tudo, podemos ser irmãos. Veremos. Uma coisa sabemos - e que o homem branco poderá um dia descobrir - nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que o possuem, como desejam possuir a terra; mas não podem. Ele é o Deus do homem, e sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. Esta terra é preciosa para Ele e feri-la é desprezar seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais breve do que todas as outras tribos. Continuem contaminando suas camas, e em uma determinada noite vocês serão sufocados pela sua própria ruína. Mas nas suas desaparições vocês brilharão intensamente, iluminados pela força de Deus que os trouxe a esta terra e, por alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos quando os búfalos são exterminados, os cavalos selvagens são domados, e os recantos secretos da densa floresta são impregnados do cheiro de muitos homens e a visão dos morros são obstruídas por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. Que é dizer adeus ao potro veloz e à caça? É o fim da vida e o início da subvida. Portanto consideraremos sua oferta de comprar a terra. Se concordarmos será para assegurarmos a reserva que vocês prometeram. Lá, talvez, poderemos sobreviver nossos derradeiros dias como desejamos. Quando o último homem vermelho desaparecer desta terra, e sua memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a pradaria, estas praias e florestas ainda estarão mantendo os espíritos de meu povo. Pois meu povo ama esta terra como o recém-nascido ama a batida do coração de sua mãe. Portanto se lhes vendermos nossa terra, procurem dar amor a ela assim como nós a amamos." 
 
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DEZ MANDAMENTOS INDIOS

1. Trate a terra e tudo que nela habita com respeito

2. Mantenha-se perto do Grande Espírito.

3. Mostre grande respeito pelo seus semelhantes.

4. Trabalhe junto pelo benefício da Raça Humana.

5. Leve assistência e bondade aonde for preciso.

6. Faça o que Você sabe corretamente.

7. Cuide do bem estar da mente e do corpo.

8. Dedique uma parte de seus esforços para as boas ações.

9. Seja sempre verdadeiro e honesto.

10. Seja responsável por seus atos.
 
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Oração ao Sol
 
Ó Grande Espírito,cuja voz ouço nos ventos e cujo alento dá vida a todo mundo,
Ouve-me!
Sou pequeno e fraco, necessito de tua força e sabedoria.
Deixa-me andar em beleza e faz com que meus olhos
possam contemplar o vermelho e o púrpura do pôr-do-sol.
Faz com que minhas mãos respeitem tudo o que fizeste
e que meus ouvidos sejam aguçados para ouvir tua voz.
Faz-me sábio para que eu possa compreender
as coisas que ensinastes ao meu povo.
Deixa-me aprender as lições que escondeste em cada folha, em cada rocha.
Busco força, não para ser maior que meu irmão,
mas para lutar contra meu maior inimigo : eu mesmo.
Faz-me sempre pronto para chegar a ti com as mãos limpas e
o olhar firme, a fim de que, quando a vida apagar,
como se apaga o poente, meu espírito possa estar contigo,
sem me envergonhar.